Vamos tomar um chá?

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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobre morar dentro do próprio corpo

Para além das metafísicas, nossa primeira referência do que somos neste mundo é o nosso corpo. E de fato ele é tudo que temos nesta vida, pois se perdemos o corpo perdemos a vida junto. Tudo mais é substituível.
Me questiono então sobre os pudores, sobre os porquês de nos ensinarem a termos vergonha do nosso corpo, essa maquininha tão incrível que nos desloca pelas mais variadas experiências. É de fato absurdo!
Temos vergonha dos nossos órgãos sexuais e das partes do corpo que não são idênticas a algum molde que alguém escolheu por nós.
Não existe uma árvore mais perfeita que outra por conta de suas formas, na natureza isso é vazio de significado, nela a vida se complementa através de suas diferenças e pelas diferenças tudo dança se nutrindo em vida e ciclos.
Quando eu era adolescente cheguei a um momento em que constatei que as pessoas que mais se destacavam em um evento não eram necessariamente as que tinham moldes e medidas gregos, mas as que estavam menos preocupadas com isso, as que tinham seu espírito e presença ancorados dentro do corpo, as que sorriam sem medo a torto e a direito.

 É claro que é bom se cuidar, se arrumar, se apresentar pro mundo atravez de uma forma que diz o que você quer expressar. Os budistas dizem que "vazio é forma e forma é vazio". Sei que nossa alma fala pelo corpo, principalmente se a deixamos falar...
Outro dia eu estava indo a uma festa com umas amigas, todas mais magras e saradinhas do que eu naquele momento. De repente elas começaram a dizer que tinha um pneuzinho ali, que precisavam emagrecer aculá e eu logo interrompi dizendo que nunca me senti tão gostosa na minha vida, que eu queria ser um homem que tivesse o mérito de me agarrar. Fato. O corpo é mutação, é movimento, hoje está assim e amanhã assado. Mas a gostosura é mesmo algo que nasce do mergulho no momento presente, da entrega às sensações que permeiam a pele. É uma questão de amar sentir e ser sentido, de vibrar em tocar e ser tocado, de não ter vergonha do próprio gozo.
Viver plenamente inclui amar o próprio corpo, pois é ele que te leva pelos percursos da vida. Ele é seu e é tudo que possui até seu último suspiro.

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