Vamos tomar um chá?

Vamos tomar um chá?

sábado, 30 de agosto de 2014

Mistério Explícito


Amor não foi feito para ser jogado e sim para ser vivido.
Se eu fosse jogar o amor jamais o pensaria como uma dama ou xadrez, onde se tem que ter uma estratégia, pois ou um ganha ou o outro. Eu o faria como quem pula corda e mesmo na hora do "foguinho" se joga, pois este é o mistério do amor... você pode tropeçar e errar a qualquer momento e só quem perde com isso é você mesmo. A corda do amor continua batendo... é só jogar outra vez.

O amor não foi feito para ser estrategicamente elaborado e sim para ser intuído. Porque o amor é fluidez no percurso, é verdade, é transparência, é dança de par que só acontece quando ambos dizem sim. É quando um convida e o outro simplesmente aceita, sem conjecturar o convite.

O amor é aposta que sempre se ganha, é palma de aniversário, é gozar pelo transbordar do outro.
Se quiser amar o amor comigo, que o meu sim te instigue mais que o meu não, que o meu chamego te incite mais do que o meu desprezo, que a minha vontade explícita de te amar seja um combustível para navegarmos longa descoberta e mergulharmos no oceano inexplorado, ao invés de te iludires que sou um território conquistado. Porque neste mundo nada é conquistado e pronto, tudo em sua dinâmica e movimentos eternos continua se moldando, se recriando, reciclando.

Se quiser me amar, faça como as órbitas dos planetas. Fique em seu lugar, mas se mostre por inteiro, se exponha sem vergonha. Não há porque ter vergonha de amar, seria como o rio ter vergonha de sua tez nua sob o sol pela manhã.

Pois se eu quiser te amar te amo como o sol em chamas e te aqueço só porque o fogo é minha pulsação. Se eu quiser te amar te digo, porque meu mistério é explícito como meu coração.

Se quiser me amar, me ame!

No sugar!!!



21 dias sem comer açúcar! Minha amiga Sumira lançou o desafio. Adoro desafios e vencer junto. AS amigas aderiram. Bora nessa. Pra completar ela propos nesses 21 não dias ficarmos sem reclamar e sem criticar. Ok. Jurei que a parte do açúcar seria a mais difícil. Estava firme até receber um comunicado do meu trabalho sobre uma reunião fora do meu horário de expediente. De repente já estava bufando.

Descobri que geralmente as reclamações começa com "ai". Ai, ta doendo. Ai, ta frio. Ai, ta calor. Ai, esqueci isso... Começa com "ai" e fica por aí mesmo, porque a reclamação te acomoda em um lugar confortável, onde maldizer a situação conclui o processo e não há mais nada a se fazer. Você é uma vítima da situação desconfortável, ela tem domínio sobre você.
Não fiquei sem reclamar os 21 dias, mas fiquei mais atenta e percebi que quando a gente não reclama nos tronamos mais proativos, detectamos um desconforto, uma questão e , ao invés de dispersar a energia na reclamação, vamos buscar uma solução;

O açúcar não foi tão difícil pra mim. Me senti mais leve, senti alguns sintomas de detox, mas tudo certo. Fiz 21 dias e achei pouco. Quer saber? Vou pra 40. E fui seguindo... 22... 23... 24... Opa! TPM na área!

Ai, to comendo açúcar! Ai, eu quero chocolate! Ai, to reclamando! Ai, enfiei o pé na jaca! Ai, que chocolate gostoso...! Ai, to reclamando de quê mesmo? Ai, ai, ui, hummm... ai, nhammm... uou!

Não, não vou entrar na lamentação. De TPM eu to de altas. Amanhã renovo meus votos e c'est la vie!

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobre morar dentro do próprio corpo

Para além das metafísicas, nossa primeira referência do que somos neste mundo é o nosso corpo. E de fato ele é tudo que temos nesta vida, pois se perdemos o corpo perdemos a vida junto. Tudo mais é substituível.
Me questiono então sobre os pudores, sobre os porquês de nos ensinarem a termos vergonha do nosso corpo, essa maquininha tão incrível que nos desloca pelas mais variadas experiências. É de fato absurdo!
Temos vergonha dos nossos órgãos sexuais e das partes do corpo que não são idênticas a algum molde que alguém escolheu por nós.
Não existe uma árvore mais perfeita que outra por conta de suas formas, na natureza isso é vazio de significado, nela a vida se complementa através de suas diferenças e pelas diferenças tudo dança se nutrindo em vida e ciclos.
Quando eu era adolescente cheguei a um momento em que constatei que as pessoas que mais se destacavam em um evento não eram necessariamente as que tinham moldes e medidas gregos, mas as que estavam menos preocupadas com isso, as que tinham seu espírito e presença ancorados dentro do corpo, as que sorriam sem medo a torto e a direito.

 É claro que é bom se cuidar, se arrumar, se apresentar pro mundo atravez de uma forma que diz o que você quer expressar. Os budistas dizem que "vazio é forma e forma é vazio". Sei que nossa alma fala pelo corpo, principalmente se a deixamos falar...
Outro dia eu estava indo a uma festa com umas amigas, todas mais magras e saradinhas do que eu naquele momento. De repente elas começaram a dizer que tinha um pneuzinho ali, que precisavam emagrecer aculá e eu logo interrompi dizendo que nunca me senti tão gostosa na minha vida, que eu queria ser um homem que tivesse o mérito de me agarrar. Fato. O corpo é mutação, é movimento, hoje está assim e amanhã assado. Mas a gostosura é mesmo algo que nasce do mergulho no momento presente, da entrega às sensações que permeiam a pele. É uma questão de amar sentir e ser sentido, de vibrar em tocar e ser tocado, de não ter vergonha do próprio gozo.
Viver plenamente inclui amar o próprio corpo, pois é ele que te leva pelos percursos da vida. Ele é seu e é tudo que possui até seu último suspiro.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Pelo direito de estar descalça...

Para que me compreenda melhor tenho que lhe dizer que sou o tipo de pessoa que vive pensando em subir em árvores e pular janelas. Tomar banho de chuva ou comer com as mãos ao invés de talheres são atos deliciosos que afagam e colorem a vida, mas não faz parte da nossa cultura. Graças a Deus, ou não sei porque cargas d'água exatamente, mas talvez por conta de um infância sem muitas repressões, uma boa parte dessa "nossa" cultura não se introjetou em mim.
Desde criança detesto assistir televisão. Detesto mesmo, a ponto de ter tido pesadelos infantis nos quais chegava em casa e tinham enfiado uma TV no meu quarto. Era uma sensação tóxica apavorante.
Quando ganhei uma TV dos meus pais aos 12 anos de idade, chorei me sentindo insultada. Por que eu, uma menina criativa que construia casas de bonecas com caixas de sapato precisaria de uma televisão? Na época não tínhamos acesso á TV por assinatura, onde você pode ao menos escolher o conteúdo do que quer ver.
Te conto esta base para você compreender um pouco o meu espírito subversivo e questionador. Não tenho pretenções de mudar o mundo, mas dentro do que diz respeito ao meu mundo as coisas ganham outra nuance. Aquilo que transita pelos meus sentidos, aquilo que me envolve, que me penetra, escolho eu se quero ou não.

Outro dia saindo pro mercado calcei um chinelo velho que tinha em casa. Fora isso estava até bem vestida, "apresentável'. O chinelo arrebentou no caminho, mas eu decidi ir mesmo assim. Dirigir descalça sentindo o pedal pode não ser o ideal ou o mais seguro, mas é uma experiência sensorial interessante.
Desci do carro pulando na ponta do pé pelo asfalto e comecei e fazer minhas compras de pé no chão, linda e de pé no chão. De repente flagro diversos tipos de olhares para aquele meu contexto. Fui na ala de chinelos e pensei em comprar um, mas a verdade é que eu tinha outros em casa e só compraria pra não estar descalça naquele breve momento. Optei por não comprar. Os olhares alheios continuavam olhando meus pés.
Concluí comigo que se fosse há um tempo atrás na minha vida, quando a opinião das pessoas a meu respeito tinha um peso incalculável, eu sairia me justificando a cada um que olhasse pra mim naquele momento: "ai, meu chinelo arrebentou"... Mas de repente pintou ali um desejo de uma cumplicidade na minha relação comigo mesma e me prometi não revelar a ninguém o ocorrido. Era uma besteira, mas era meu segredo então. Afinal, se eu tivesse simplesmente com vontade de sair descalça pela rua? Deveria satisfação a alguém? Incorporei aquilo como um ato de rebeldia, mantive a postura firme, escolhendo meus produtos, fui para a fila. Se alguém me olhava com interrogações nos olhos eu olhava de volta com um sorriso e naturalidade, firme em meu voto de silêncio.
Saí do mercado tomada por um sentimento de liberdade indescritível. Cheguei em casa eufórica, sentindo que resgatei um pedacinho de mim, uma parte esquecida da cabocla sensual, selvagem e sem frescura. Porque não ter frescuras inúteis é muito sexy, mais sexy que lingerie.

Meu amor é o forró

Ah! Gente, eu amo forró! Sim, sempre soube disso. gosto de um forró pé-de-serra bem gingado, bem dançado. Forró é uma aventura, enche a alma de adrenalina, por nunca se saber para onde o parceiro vai te puxar, quantos giros e pra onde vai te fazer girar. É um exercício de entrega, de se jogar de olhos fechados no abismo e se deixar confiar.
Hoje estou amando o forró mais do que nunca. Sabe aquele amor do marido ou da esposa que trai e se arrepende? Porque ficar com o outro foi horrível, vazio e sem ao menos química. Aquela traição fútil, por impulso ou conveniência. Foi o que fiz ontem. Inventei de ir para um samba.
Alguns amigos sempre me chamam pro samba e eu nunca tinha sentido vontade de ir. Aí ontem aconteceu de eu estar sem meu filho em pleno sábado à noite, com vontade de sair e a única programação que pintou foi a tal. Resolvi me abrir para a experiência.
Me arrumei, produção completa dos pés à cabeça, pensando nos caras gatos que poderia ter por lá. Lá chegando, uma multidão, estilo mesmo blocos de carnaval (que por acaso não me apetecem), o pessoal muito animado e a banda em torno de uma mesa.
Me juntei à muvuca para espantar o frio e tentei me conectar com aquele frisson. As pessoas cantavam extasiadas letras de músicas que remetem a um tempo de sofrimento do nosso povo. Músicas belas, mas que quanto mais eu escutava mais entrava numa melancolia. Um ritmo alegre e mensagens repletas de pesar. Não tinha muito espaço para dançar e os gatos nunca conseguiriam apreciar a minha produção e beleza naquele muvucão onde mal se via um palmo adiante.
Eu fiz tudo que pude, dei tudo de mim para tentar entrar na onda... mas não fluiu nada. Chegou um momento em que eu era uma estagiária fazendo pesquisa de campo em pleno samba. Analisava tudo, tentava compreender os mínimos gestos das pessoas ao meu redor e nada fazia sentido. Os gatinhos que vi ao dar umas voltas, bem bêbados, cantavam sorrindo, orgulhosos do pesar da mensagem das músicas, ou talvez sem pensar na mensagem, porque na real bêbado não pensa em muita coisa.
Nos intervalos da banda bêbada, que mais parecia formandos empolgados brincando de karaokê, entrava um Dj muito louco, que colocou Rumba, Coco, Reggae, Rock e até Saltimbancos. Me deleitei com este Dj. Estes intervalos com esse som eram meu oásis ali, eu gritava, dançava!... As pessoas desocupavam um pouco a pista, então eu tinha espaço para ver... e ser vista! Pena que durava pouco! Logo convenci as amigas a irem embora...
Hoje uma amiga me contou que antes não gostava de samba. Que persistiu um pouco até ir entrando na onda da coisa. Eu disse a ela que sempre escutei a mesma coisa no que diz respeito a cerveja. Não conheço uma pessoa que me diga que provou a cerveja e amou logo de primeira, mas foi insistindo até acostumar. É por isso que samba e cerveja combinam. E é por isso que eu não combino com nada disso. Porque para algo assim me conquistar tem que ser de primeira, pois gravo a primeira impressão para sempre e não tenho muito perfil de masoquista. Já era pro samba, perdeu a chance de me ganhar...
Ainda bem que o forró me ama. Me envolve nos seus braços, me perdoa e não quer nem saber do que passou, só quer me ver sorrindo e girando no espaço.